Pelas objetivas da Guerra
- Mariana Serrano
- 17 de jun. de 2021
- 2 min de leitura

André Liohn, em entrevista para o Blog eMania
Aos 30 anos, André Liohn enveredou pela fotografia nos campos de batalha. Depois de dezasseis anos passados entre viagens, transporta o retrato em cores quentes de paisagens a guerra mora. Desde o Iraque ao Brasil, nas trincheiras ou nas unidades de terapias intensivas, o fotojornalista viveu de perto o sofrimento dos outros para que pudesse captá-lo e transmiti-lo ao mundo.
No fotojornalismo de guerra, o desafio está na procura da abordagem que seja mais do que as fotos ilustrativas produzidas para agências com o mote de ilustrar qualquer texto genérico. Para uma visão minuciosa, é necessário ter uma convivência aprofundada com o conceito que será noticiado, para que se retrate peculiaridades desconhecidas. Saber qual é “o lugar e a hora certa” quando o acontecimento se dá e fazer um retrato do momento sem que o romantize. Fugir à fotografia de “uma paisagem melancólica” que procure suscitar emoções ao público.
Segundo André, a empatia é uma característica fulcral no fotojornalismo de guerra, o “chegar lá e ser humano” perante questões de tragedia. Vê a necessidade de nutrir uma proximidade emocional, para que não se perca a sensibilidade do retrato e se deixe cair no vazio. Porque nem a convivência torna o fotojornalista cocidadão.
A distância, seja ela histórica, cultural ou emocional, torna o trabalho do jornalista mais “possível”, mantendo-se mais facilmente a neutralidade. Confessa que trabalhar no próprio país é mais difícil. Quando se retrata a realidade da nossa pátria, o público espera encontrar uma reportagem positiva, sem que os jornalistas critiquem os mais próximos de si. Além do trabalho de se manter distante pessoalmente, os consumidores de notícias tendem a não acreditar numa isenção, estando a favorecer um dos lados.
A vigilância constante não se fica pela imparcialidade. Com o avanço das tecnologias, surgiu a tendência para que o jornalismo se cruzasse com o entretenimento, trazendo uma nova forma de se contar a história. Para André, a combinação das duas vertentes foi a origem de fake news e pós-verdades. Em 2011, o fotojornalista Michael Christopher Brown retratou a guerra da Líbia através da aplicação Hipstamatic (precursora do Instagram). Com a possibilidade de adição de filtros e contornos que transformavam a captação semelhante a uma polaroid. Para André, este retrato era um desrespeito perante o sofrimento que viam de perto no cenário de guerra. Manipulava a realidade de cidadãos que “pagavam com a vida para que o país mudasse”. Os artigos desse período falavam sobre o trabalho do Michael através da utilização do telefone e não sobre a Líbia, transformando o terror vivido pela população numa promoção da aplicação.
Há uma necessidade de se afastar do sensacionalismo, que transmite muitas vezes a guerra de forma a causar um fascínio no espectador. Dá o caso dos documentários que retratam artificio de guerra, como o carro blindado: “Um tanque de guerra não é um veículo que se use para ir ao supermercado. É uma arma potente criada para causar danos físicos em espaços, em estruturas, em pessoas.” A mistificação da guerra e do armamento deve ser travada pelo trabalho do fotojornalista, que “age, interpreta e transforma” a informação captada no real, sem tomar lados.
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