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Temo a falta da liberdade

  • Foto do escritor: Mariana Serrano
    Mariana Serrano
  • 17 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura

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Jornais com capas negras, um protesto da imprensa Polaca - LUSA/ALBERT ZAWADA


Sempre me incomodou a ideia de conhecer informação através de formas enviesadas. Nunca me contentei com meias explicações provenientes das minhas figuras parentais. Comecei a ter enciclopédias históricas desde o começo do ensino primário porque queria saber mais, conhecer melhor. Mais tarde revivi os tempos da censura pelos meus avós. E cresceu um estranho medo a que a qualquer momento pudesse ter o meu conhecimento limitado. Talvez esse tenha sido o fator decisivo para decidir tomar o caminho do jornalismo: querer estar informada e informar.

Tenho o papel da amiga chata num convívio. Normalmente arranjo forma de se converter a conversa que é atirada para o ar numa discussão político-social. Acredito que o papel destas “pedrinhas no sapato”, como eu, é relembrar que ainda estamos numa sociedade com questões sobre as quais temos que refletir. Por isso, encaro com estranheza quando oiço que a “política é aborrecida”. Tal aconteceu na entrevista de Michal Bakowski. O que fez com que questionasse o quão enviesada podia ser a afirmação de que os media eram politicamente influenciados. Outra coisa que me faz confusão: a possibilidade de os media assumirem uma cor partidária. Porque vai contra todas as bases. A verdade é que ninguém consegue ser totalmente objetivo, e o papel do jornalista é conciliar o controle das suas ideologias e procurar uma perspetiva que dê a informação da forma mais neutra possível. Afinal, se a Mariana de sete anos não queria ser influenciada pelo parecer dos pais, tenho dúvidas que a maioria dos adultos gostem de receber informação influenciada por jornalistas.

A Polonia deixou-me uma inquietação. Além de um conjunto de meios de comunicação dirigidos por um Padre que tem uma alta influência política e possui uma universidade onde se ensina comunicação social, temos jovens que acham isto normal. Dei parte do meu tempo à pesquisa. Descobri que em fevereiro de 2021 os jornais polacos imprimiram páginas negras como uma forma de protesto contra impostos que “sufocam o jornalismo independente”. Andando mais para atrás, em 2019 os Repórteres sem Fronteiras noticiavam a violência policial contra jornalistas na Polônia. E destaca-se que a dezembro de 2018 o Público noticiava que o país desceu entre 2015 e 2018 quarenta lugares no ranking do Índice Global de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras. Dizia-se que o serviço público de comunicação se havia transformado em propaganda do governo, com valores nacionalistas, enquanto os jornalistas se viam colocados em processos de justiça.

Temo que a censura e o enviesamento se tornem um hábito. Faltou-me ver preocupação naqueles quatro habitantes polacos que me apareciam nas janelinhas do zoom. Passaram muitos anos desde então, mas a Polónia sofreu pelas mãos do nazismo e do comunismo. Acredito que várias são as bandeiras vermelhas que se levantam quando se diz que “ninguém quer chegar a casa ao final do dia e ouvir assuntos secantes como a política”. Porque a política é aquilo que nos rege, e que limita quem podemos ser. Temo, ainda mais, que este movimento generalizado, que rouba liberdade de pensamento, chegue a terras lusas e que a história se repita.


Elaborado no âmbito da UC de Jornalismo Internacional

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